sábado, 11 de abril de 2009

Genocídio em Ruanda

No dia 06 de abril completaram 15 anos da morte do presidente ruandês Juvenal Habyarimana e de Cyprien Ntaryamira, presidente do Burundi. Fato emblemático da história de Ruanda, esse acontecimento foi o estopim para um dos maiores genocídios da história.
Durante o período de 6 de abril a 4 de julho de 1994 cerca de 800 mil ruandeses, em sua maioria da etnia Tutsi, foram assassinados. Esse ato simbolizou o extremismo das divergências entre as etnias Hutus e Tutsis e, externamente, demonstrou a “incapacidade” da comunidade internacional para resolver esse problema.
Um pequeno Estado localizado no centro da África, Ruanda teve a sua história marcada pela intervenção européia, em particular da Alemanha até a I Guerra Mundial e posteriormente da Bélgica.
Seguindo a onda de independências da década de 1960, Ruanda consegue proclamar a sua em primeiro de julho de 1962. Em decorrência do domínio dos Hutus na política ruandesa, Gregóire Kayibanda foi eleito Primeiro-Ministro. Desde sua independência até 1973, o governo tomou várias medidas de repressão contra os Tutsis. No dia 5 de julho de 1973, o major general Juvenal Habyarimana, ministro da defesa, fez um golpe de Estado, destituindo o seu primo Grégoire.
Em dezembro de 1988, foram organizadas eleições e Habyarimana foi confirmado presidente, sendo reeleito em 1983 e em 1988 (concorreu como candidato único). Dois anos depois, uma série de problemas climáticos e econômicos geraram conflitos internos e a Frente Patriótica Ruandense (RPF) dominada por Tutsis refugiados nos países vizinhos lançaram ataques militares contra o governo, a partir de Uganda, levando a uma guerra civil que durou 3 anos. Em 1992, foi assinado um cessar-fogo entre o governo e a RPF em Arusha, Tanzania.
As mortes de Habyarimana e Cyprien Ntaryamira, no dia 06 de abril de 1994, fizeram com que os militares, a guarda presidencial, milicianos e parte da população Hutu lançassem ataques contra os Tutsis e contra os Hutus opositores. Cerca de 800 mil pessoas morreram. Em 4 de julho, a RPF, sob direção de Paul Kagame, ocupou várias partes do país e entrou na capital Kigali, enquanto tropas francesas de manutenção de paz ocupavam o sudoeste, durante a “Operação Turquoise”.
A resposta das Nações Unidas para esse fato foi morosa. O Secretário-Geral das Nações Unidas na época, Bouthos Gali, afirmava que essa guerra era uma "guerra civil de tutsis contra hutus e hutus contra tutsis". A mídia interpretava o ato como “desavenças seculares entre tribos”. E o mais alarmante, a palavra genocídio foi relativizada pelos representantes de países nas Nações Unidas.
Ao negar a existência de genocídio em Ruanda, os Estados Unidos e as demais potências ocidentais evitavam contrariar o direito internacional, o qual impõe intervenção internacional em caso de genocídio. Assim, de acordo com os representantes nas Nações Unidas, em Ruanda não aconteceu genocídio, mas sim, “atos de genocídio”, apesar do relatório do general canadense Roméo Dallaire, que expunha claramente as atrocidades que aconteciam e da evacuação dos cidadãos europeus em meados de abril.
Desse modo, os genocídios de 1994 evidenciaram as “brechas” do direito internacional e a sua falência frente a inexistência de interesses internacionais na região. Notando a incapacidade das Nações Unidas, a União Africana decidiu agir. Após o episódio, definiu o direito de intervir em caso de graves violações dos direitos humanos no continente africano. Atualmente, ela coordena missões militares em vários países africanos. Mas as causas da incapacidade das Nações Unidas ainda estão aí e precisam ser analisadas com mais profundidade, principalmente retirando o "véu" das relações de poder internacionais e do uso do direito internacional para a manutenção do poder das grandes potências.

Filmes:
“Hotel Ruanda”, de Terry George (2004)
“Tiros em Ruanda”, de Michael Caton-Jones (2005)

Livros:
“Uma temporada de facões: relatos do genocídio em Ruanda”, do jornalista francês Jean Hatzfeld (2005).

Texto On-line:
Opinião: Comunidade internacional foi cúmplice do genocídio em Ruanda
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4159346,00.html
World 'ignored Rwanda genocide' : http://english.aljazeera.net/news/africa/2009/04/200947181917774331.html

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