terça-feira, 26 de maio de 2009

O Brasil mira a África!

No Dia da Libertação da África, nada mais emblemático que o lançamento do III Festival Mundial de Artes Negras em Salvador (BA)! Isso mesmo, o Fesman , que é a maior reunião das artes e da cultura negra do mundo, esse ano homenageará o Brasil e, portanto, nada mais justo que celebrar aqui o lançamento da terceira edição deste evento.

No Brasil, o lançamento contará com a presença do presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, e do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e será repleto de atrações culturais, como, por exemplo, apresentações do balé folclórico da Bahia, de blocos afro da cidade de Salvador, de artistas senegalenses, além de shows de Margareth Menezes e de Gilberto Gil, o qual, aliás, é o presidente internacional do 3° Fesman. O festival será realizado entre os dias 1° e 14 de dezembro em Dacar, no Senegal.

A homenagem que o festival está fazendo ao Brasil deve-se principalmente ao fato do país possuir a segunda maior população negra mundial, após a da Nigéria, e ter sua cultura fortemente influenciada pelas tradições, costumes e religiosidade dos povos africanos.

No âmbito desse festival, o Ministério da Cultura assumiu o compromisso de auxiliar na realização de um cortejo de Carnaval para marcar as comemorações de abertura do evento. Provavelmente enviaremos um trio elétrico para Senegal, mas o verdadeiro desejo expresso pelos senegaleses é a realização de uma partida de futebol entre as seleções de ambos os países.

Além disso, o governo pretende levar ao país africano uma representação cultural de cerca de 300 artistas nacionais relacionados com as expressões da arte negra.

Na opinião do presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, esse evento representa para o Brasil uma oportunidade de adotar parceria com países da África em prol do desenvolvimento do continente africano e de estimular relações entre as nações. Nesse ínterim, é notável o fato de que, das quatro viagens internacionais feitas pelo atual ministro da cultura, três foram para tratar de assuntos relativos à cultura negra.

Ademais, as ligações culturais e históricas multicentenárias entre África e Brasil avançaram bastante depois de alguns anos do governo Lula: as inúmeras viagens presidenciais à África, o ensinamento nos estabelecimentos escolares da cultura e da história afro-brasileira ou ainda a criação de uma Jornada nacional de luta contra a intolerância religiosa destinada a valorizar os cultos de origem africana evidenciam a vontade de oferecer o reconhecimento à comunidade negra.


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Paulo Guerra

domingo, 17 de maio de 2009

III SEMANA DA ÁFRICA

Entre os dias 25 de 27 de maio de 2009, será realizada a III Semana da África, em Salvador, Bahia, com o tema "África: dinâmicas sociais, políticas e culturais na contemporaniedade". O evento contará com mesa-redondas, palestras, oficinas e mini-cursos sobre diferentes temas africanos que envolvem desde a cultura até questões geopolíticas. A programação pode ser acessada pelo link:
http://img183.imageshack.us/img183/9127/programacao.pdf

As inscrições para participar do evento foram prorrogadas até dia 19 de maio e alguns textos já estão disponíveis para leitura. Para maiores informações, acessem:
http://semanadaafrica.blogspot.com/.

Uma grande oportunidade. Parabéns a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS - local do evento) pela iniciativa.

sábado, 25 de abril de 2009

Eleições Sulafricanas

Hoje encerram as contagens da eleição que levou os sulafricanos às urnas na última quarta-feira e como todos já sabiam, Jacob Zuma é o novo presidente do país pelos próximos 5 anos.

O partido de Jacob Zuma, o CNA, desde o fim do sistema do apartheid, nos anos 90, vem demonstrado enorme e incontestável força no cenário político do país. A força conquistada por ele vem da figura de Nelson Mandela, santificado vivo pelo povo de seu país pela vitória na luta que deu o poder aos negros. Desde então, o partido elege quem quer que concorra a presidência.

Há mais de uma década, Jacob Zuma enfrenta suspeitas e processos judiciais, sobretudo por corrupção, e em 2005 chegou a perder o posto de Vice-presidente para o último presidente Thabo Mbeki. Em 2006, sua figura política foi eclipsada por mais acusações, inclusive uma de estupro, da qual foi absolvido. Apesar dos quase quatro anos ora do poder, Zuma conseguiu hoje uma vitória com 67% dos votos.

Nos 15 anos em que está no poder, o CNA viu seu poder praticamente incontestável. O principal partido que lhe faz oposição é o Aliança Democrática (DA) que ficou em segundo lugar nas eleições dessa semana com 16% com a prefeita da Cidade do Cabo como candidata. Garantiram, pelo menos o governo da província do Cabo e a maioria absoluta dos votos dos sulafricanos residentes no exterior emitidos nas embaixadas.

Em terceiro lugar ficou o Cope, partido surgido em setembro do ano passado e que rapidamente atingiu a importância de ser o terceiro em força política. Em um movimento interno, acob Zuma destituiiu o então presidente Thabo Mbeki que formou o Cope com descontentes do CNA, sobretudo por causa dos infinitos casos de corrupção contra os partidários.

O Partido da Liberdade Inkhata (IFP) passou a ocupar a quarta posição perdendo seus anteriores 8% da representatividade política para, hoje, 4%. Partidos menores obtiveram menos de 1% dos votos e estudam aliança para trabalhem no Parlamento.

A democracia sulafricana

Tradicionalmente o eleitorado do CNA concentra-se nas camadas mais baixas da população sulafricana. Populações residentes em áreas sem água encanada, luz elétrica e carente de qualquer outro tipo de infra-estrutura dedicam seus votos ao partido apoiado pelo seu herói do passado recente, Nelson Mandela. Como em muitos países do Terceiro Mundo, o CNA é eleito com a promessa de levar a essas pessoas uma melhor condição de vida. Porém, mandato após mandato, e nada se altera. No poder desde o início do regime democrático, o CNA é acusado cada vez mais frequentemente de corrupção descarada, muitas vezes beneficiando-se da confusa burocracia existente no país.

O maior temor da comunidade internacional nas eleições dessa semana era a de que o CNA obtivesse 70% dos votos e garantisse tantos assentos no parlamento que fosse possível alterar a constituição nacional sem a necessidade de alianças. Seria, sem sombra de dúvida, um grande retrocesso da democracia. O surgimento do Cope, somado com os votos obtidos pelo DA, no entanto, garantiram a democracia no parlamento. Por isso, pela primeira vez desde 1994, os votos dedicados ao CNA sofreram queda:

1994 - 62%
1999 - 66%
2004 - 69%
2009 - 65%

No mais, segundo a agência de notícias EFE, o pleito sulafricano obteve 77% de participação e ocorreu sem maiores problemas, com excessão de falta de cédulas em algumas seções. Observadores internacionais - representados pela Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África - garantiram que a eleição foi "limpa, transparente e crível", destacando que ela discorreu "em um ambiente pacífico".

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Carlos Raffaeli

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Colonialismo no século XXI

Diversas ONG's mundiais e ativistas europeus denunciam o que hoje chamam de colonialismo agrário na África. O que está no palco das discussões hoje, no entanto, passa longe daquele que outrora aconteceu envolvendo disputa por poder e disputa entre as potências européias do século XIX.

A África subsaariana, conhecida por suas terras férteis, sua baixa produtividade agrícola e seus ditatores hoje é o novo alvo de investidores internacionais. Motivados pela nova onda dos biocombustíveis e pela inflação de alimentos, economias industriais avançadas como Suécia e Japão, economias em rápidao ascensão como China e Índia, e países enriquecidos com o petróleo como Kwait, Arábia Saudita e a própria africana Líbia, vêm comprando enormes porções de terras no continente.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, somente 14% das terras africanas agricultáveis estão cultivadas em uma região com riquíssimos recursos naturais e clima bastante favorável. Se por um lado pode surgir o argumento de que a região pode vir a ser solução para a fome e para os preços dos alimentos no planeta, por outro lado a comunidade internacional não enxerga a compra dessas grandes extensões de terra com bons olhos.

A crítica a isso tudo está principalmente em como se está dando essa nova partilha comprada da África. Os investidores se beneficiam da confusa burocracia que assola a grande maioria dos países e de acordos benéficos com os ditadores e com senhores de guerra com enormes poderes locais. Obviamente, os investimentos não são convertidos em benefício de toda a nação e só enriquece a elite no poder.

A ONG GRAIN, sediada em Barcelona, denuncia os países que fizeram as maiores dessas compras - com casos de até mais de 1.000.000 de acres - mas que , no entanto, o pior por baixo dessa história não é a compra monstruosa em si. Os países que obtem acesso a essas terras pouco se interessam em vender alimentos no mercado mundial, mas sim em obter na África um laboratório genético ou somente suprir seus próprios mercados com alimentos, pouco afetando a inflação mundial por comida e trazendo nenhum benefício para a comunidade local. Outra crítica a ser feita baseia-se na especulação territorial que passa a ser praticada onde antes eram cobrados valores baixos pela terra. Em um exemplo, ano passado metade do território de Madagascar foi comprado por um preço baixo por um único conglomerado empresarial.

A questão também abre espaço para outros tipos de debates. A soberania estatal, que sempre foi fraca, especialmente em países como o Sudão, não alcança os trabalhadores que vivem em tais terras. Aliás, eles, em conjunto com a terra fértil, água e sol em abundância, são os maiores atrativos para esses novos investidores. Agências internacionais envolvidas com garantia de direitos humanos já demonstraram-se preocupadas com a condição de vida imposta a tais comunidades.

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em associação com www.allafrica.com
Carlos Raffaeli

sábado, 11 de abril de 2009

Genocídio em Ruanda

No dia 06 de abril completaram 15 anos da morte do presidente ruandês Juvenal Habyarimana e de Cyprien Ntaryamira, presidente do Burundi. Fato emblemático da história de Ruanda, esse acontecimento foi o estopim para um dos maiores genocídios da história.
Durante o período de 6 de abril a 4 de julho de 1994 cerca de 800 mil ruandeses, em sua maioria da etnia Tutsi, foram assassinados. Esse ato simbolizou o extremismo das divergências entre as etnias Hutus e Tutsis e, externamente, demonstrou a “incapacidade” da comunidade internacional para resolver esse problema.
Um pequeno Estado localizado no centro da África, Ruanda teve a sua história marcada pela intervenção européia, em particular da Alemanha até a I Guerra Mundial e posteriormente da Bélgica.
Seguindo a onda de independências da década de 1960, Ruanda consegue proclamar a sua em primeiro de julho de 1962. Em decorrência do domínio dos Hutus na política ruandesa, Gregóire Kayibanda foi eleito Primeiro-Ministro. Desde sua independência até 1973, o governo tomou várias medidas de repressão contra os Tutsis. No dia 5 de julho de 1973, o major general Juvenal Habyarimana, ministro da defesa, fez um golpe de Estado, destituindo o seu primo Grégoire.
Em dezembro de 1988, foram organizadas eleições e Habyarimana foi confirmado presidente, sendo reeleito em 1983 e em 1988 (concorreu como candidato único). Dois anos depois, uma série de problemas climáticos e econômicos geraram conflitos internos e a Frente Patriótica Ruandense (RPF) dominada por Tutsis refugiados nos países vizinhos lançaram ataques militares contra o governo, a partir de Uganda, levando a uma guerra civil que durou 3 anos. Em 1992, foi assinado um cessar-fogo entre o governo e a RPF em Arusha, Tanzania.
As mortes de Habyarimana e Cyprien Ntaryamira, no dia 06 de abril de 1994, fizeram com que os militares, a guarda presidencial, milicianos e parte da população Hutu lançassem ataques contra os Tutsis e contra os Hutus opositores. Cerca de 800 mil pessoas morreram. Em 4 de julho, a RPF, sob direção de Paul Kagame, ocupou várias partes do país e entrou na capital Kigali, enquanto tropas francesas de manutenção de paz ocupavam o sudoeste, durante a “Operação Turquoise”.
A resposta das Nações Unidas para esse fato foi morosa. O Secretário-Geral das Nações Unidas na época, Bouthos Gali, afirmava que essa guerra era uma "guerra civil de tutsis contra hutus e hutus contra tutsis". A mídia interpretava o ato como “desavenças seculares entre tribos”. E o mais alarmante, a palavra genocídio foi relativizada pelos representantes de países nas Nações Unidas.
Ao negar a existência de genocídio em Ruanda, os Estados Unidos e as demais potências ocidentais evitavam contrariar o direito internacional, o qual impõe intervenção internacional em caso de genocídio. Assim, de acordo com os representantes nas Nações Unidas, em Ruanda não aconteceu genocídio, mas sim, “atos de genocídio”, apesar do relatório do general canadense Roméo Dallaire, que expunha claramente as atrocidades que aconteciam e da evacuação dos cidadãos europeus em meados de abril.
Desse modo, os genocídios de 1994 evidenciaram as “brechas” do direito internacional e a sua falência frente a inexistência de interesses internacionais na região. Notando a incapacidade das Nações Unidas, a União Africana decidiu agir. Após o episódio, definiu o direito de intervir em caso de graves violações dos direitos humanos no continente africano. Atualmente, ela coordena missões militares em vários países africanos. Mas as causas da incapacidade das Nações Unidas ainda estão aí e precisam ser analisadas com mais profundidade, principalmente retirando o "véu" das relações de poder internacionais e do uso do direito internacional para a manutenção do poder das grandes potências.

Filmes:
“Hotel Ruanda”, de Terry George (2004)
“Tiros em Ruanda”, de Michael Caton-Jones (2005)

Livros:
“Uma temporada de facões: relatos do genocídio em Ruanda”, do jornalista francês Jean Hatzfeld (2005).

Texto On-line:
Opinião: Comunidade internacional foi cúmplice do genocídio em Ruanda
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4159346,00.html
World 'ignored Rwanda genocide' : http://english.aljazeera.net/news/africa/2009/04/200947181917774331.html

domingo, 5 de abril de 2009

Para começar

O blog será a ferramenta de conexão do centro de estudos Alberto da Costa e Silva com o mundo externo para a publicação de textos e curiosidade que venhamos a tomar conhecimento durante nossos estudos e dedicação à África. Para começar, então, e sem ainda nenhum trabalho realizado, a minha primeira contribuição aqui fica por conta de sugestão do último livro e filme que li e assisti nos últimos dias e que me aproximaram ainda mais ao continente.

Quando o crocodilo engoliu o sol (When a crocodile eats the sun. GOLDWIN, Peter) - O jornalista Peter Godwin conta com muita emoção a história da decadência de seu país, antes próspero, sendo destruído pelo controle do presidente Robert Mugabe enquanto vê a saúde de seu pai deteriorar. Trabalhando em Nova Iorque e voltando ao Zimbábue para visitar sua família, que por amor ao lugar em que escolheram viver decidem ficar apesar de toda a crise que os assola, o autor vê morrer seu pai e seu país.
Um ótimo livro para quem quer entender como uma das maiores economias do continente chegou à maior inflação da história e ao ponto de não haver produtos nas prateleiras dos mercados e combustível para os carros.

O título é uma referência a uma lenda tribal local que diz que um eclipse ocorre porque um crocodilo come o sol quando os deuses estão descontentes com o comportamento dos humanos. O livro sempre resgata as memórias do passado do autor em um Zimbábue forte em contraposição a um em que a população sofre por inteiro, os funcionários ligados ao presidente erguem imponentes castelos e os opositores são mortos violentamente.
Perfeito para entender muitos dos governos presentes no continente.



Infância Roubada (Totsi - direção: Gavin Hood - 2005) - Vencedor do oscar de melhor filme de língua estrangeira em 2006, Infância Roubada é uma espécie de Cidade de Deus para a África do Sul. Ajuda a esclarecer que, assim como as metrópoles brasileiras, as cidades sulafricanas não são apenas a modernidade e os arranha-céus que ostentam. Totsi é o personagem central que vive em uma favela de Johannesburgo e que vive de assaltos e crimes. A história começa quando ele rouba um carro e percebe que um bebê está no banco de trás e decide tomar conta dele no gueto onde vive. O filme mostra a violência com que a sociedade marginalizada na África do Sul convive e os contrastes sociais existentes em uma cidade cada vez mais moderna.


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Carlos Raffaeli