quarta-feira, 22 de abril de 2009

Colonialismo no século XXI

Diversas ONG's mundiais e ativistas europeus denunciam o que hoje chamam de colonialismo agrário na África. O que está no palco das discussões hoje, no entanto, passa longe daquele que outrora aconteceu envolvendo disputa por poder e disputa entre as potências européias do século XIX.

A África subsaariana, conhecida por suas terras férteis, sua baixa produtividade agrícola e seus ditatores hoje é o novo alvo de investidores internacionais. Motivados pela nova onda dos biocombustíveis e pela inflação de alimentos, economias industriais avançadas como Suécia e Japão, economias em rápidao ascensão como China e Índia, e países enriquecidos com o petróleo como Kwait, Arábia Saudita e a própria africana Líbia, vêm comprando enormes porções de terras no continente.

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, somente 14% das terras africanas agricultáveis estão cultivadas em uma região com riquíssimos recursos naturais e clima bastante favorável. Se por um lado pode surgir o argumento de que a região pode vir a ser solução para a fome e para os preços dos alimentos no planeta, por outro lado a comunidade internacional não enxerga a compra dessas grandes extensões de terra com bons olhos.

A crítica a isso tudo está principalmente em como se está dando essa nova partilha comprada da África. Os investidores se beneficiam da confusa burocracia que assola a grande maioria dos países e de acordos benéficos com os ditadores e com senhores de guerra com enormes poderes locais. Obviamente, os investimentos não são convertidos em benefício de toda a nação e só enriquece a elite no poder.

A ONG GRAIN, sediada em Barcelona, denuncia os países que fizeram as maiores dessas compras - com casos de até mais de 1.000.000 de acres - mas que , no entanto, o pior por baixo dessa história não é a compra monstruosa em si. Os países que obtem acesso a essas terras pouco se interessam em vender alimentos no mercado mundial, mas sim em obter na África um laboratório genético ou somente suprir seus próprios mercados com alimentos, pouco afetando a inflação mundial por comida e trazendo nenhum benefício para a comunidade local. Outra crítica a ser feita baseia-se na especulação territorial que passa a ser praticada onde antes eram cobrados valores baixos pela terra. Em um exemplo, ano passado metade do território de Madagascar foi comprado por um preço baixo por um único conglomerado empresarial.

A questão também abre espaço para outros tipos de debates. A soberania estatal, que sempre foi fraca, especialmente em países como o Sudão, não alcança os trabalhadores que vivem em tais terras. Aliás, eles, em conjunto com a terra fértil, água e sol em abundância, são os maiores atrativos para esses novos investidores. Agências internacionais envolvidas com garantia de direitos humanos já demonstraram-se preocupadas com a condição de vida imposta a tais comunidades.

__
em associação com www.allafrica.com
Carlos Raffaeli

Nenhum comentário:

Postar um comentário